Jornal e livro? Dá para conciliar sim

Para a maioria dos entrevistados desse trabalho, conciliar jornalismo e literatura não é um problema. Dez deles, quase metade, afirmaram levar as duas atividades tranquilamente.

 

LOURENÇO CAZARRÉ

O jornalista escritor nasceu em Pelotas (RS), mas vive em Brasília desde 1977. Autor de mais de 40 livros, entre novelas juvenis, contos e romances, ele acredita que, como viver de venda de livros no Brasil é quase impossível, conciliar jornalismo e literatura é uma saída natural, já que as duas áreas se aproximam quanto ao uso da palavra. “Dá para ser escritor e jornalista ao mesmo tempo, sim. São contados em centenas os escritores brasileiros que ganham a vida como jornalistas. (…) A ligação entre jornalistas e escritores é forte porque, aparentemente, a função é a mesma: escrever. No entanto, simplificando ao máximo, pode-se dizer que o jornalista usa a língua para descrever o real e o escritor a utiliza para criar um mundo ficcional. São coisas fundamentalmente diversas.”

 

LUIS TURIBA

O pernambucano Luis Turiba acredita que poesia e jornalismo também podem ser conciliados. Em Brasília desde 1978, ele mantém uma relação de criação com os versos, nunca de profissão. O jornalismo sim, proporcionou-lhe dinheiro, experiência, trabalhos – e ele é muito grato à imprensa por isso. E, apesar de separar bem as duas coisas, ele reconhece a proximidade entre ambas. “A literatura é muito ligada ao jornalismo mesmo. Às vezes o poema nasce na redação de jornal. Poemas são acontecimentos jornalísticos também.”

 

ARIOSTO TEIXEIRA

Na visão do analista político de O Estado de S. Paulo, Ariosto Teixeira, falar que existe conflito entre as partes é desculpa (para não fazer bem nenhuma das duas, no caso). “É possível sim juntar as duas coisas. O que não é possível é viver de literatura.” Na capital desde 1978, o autor de Poemas do front civil acredita que, além de um mercado editorial que favoreça as obras literárias nacionais, falta pesquisa nos textos produzidos no país. “Somos muito influenciados pelo experimentalismo francês e fazemos isso de forma muito preguiçosa. É por isso que muitos escritores dizem que, se tivessem que pesquisar para escrever, jamais escreveriam. Mas a pesquisa é essencial.”

 

ALESSANDRA ROSCOE

Para a jornalista televisiva e atualmente escritora de literatura infantil Alessandra Roscoe, jornalismo e literatura são atividades parceiras e totalmente conciliáveis. “Não vejo nenhum problema, acho até que as duas coisas andam muito juntas. Sempre brinco que como jornalista, escrevo histórias de verdade de gente de verdade e como escritora invento situações e personagens. A meu ver uma coisa completa a outra. As duas profissões têm a mesma ferramenta: a palavra. Seja ela poética ou informativa, será sempre a palavra.”


ANGÉLICA TORRES

Na visão da goiana de Ipameri Angélica Torres, em Brasília desde 1965, não é o jornalismo que impede a literatura ou vice-versa. Sempre haverá a possibilidade – e a viabilidade – de se fazer vários ofícios paralelamente. Só depende de quem as desejar. “Acho que dá pra se fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo em qualquer época e lugar, desde que se tenha a inquietação, um chamado interior pra isso, mas também disciplina, que sem ela não se realiza coisa alguma”.

 

MENEZES Y MORAIS

Para Menezes y Morais, a história da literatura brasileira é uma prova de que, aqui, jornalista também pode ser escritor e vice-versa. “Quando não concilia, é porque uma vocação bate mais forte que a outra. A própria Rachel de Queiroz, que era jornalista e escritora, dizia que não dava para viver só com uma coisa ou só com outra”, exemplifica. Apesar de concordar que as duas áreas podem andar juntas, o piauiense define bem o que cada uma representa na sua vida: a literatura alimenta a sua existência, o jornalismo garante a sua sobrevivência.

 

ROSÂNGELA VIEIRA

A jornalista, escritora e professora universitária Rosângela Vieira acredita que conciliar ou não jornalismo e literatura é uma questão mais de espaço mental do profissional. Ela acredita que é possível sim levar as duas atividades juntas, mas o resultado dessa parceria vai depender de quanto o autor está envolvido com uma coisa e outra. “Não acho que sejam áreas inconciliáveis não. Mesmo porque, a literatura é uma espécie de mosca azul: se você foi picado por ela, não tem mais saída. Em qualquer situação, dá-se um jeito de escrever, de colocar aquela inquietação no papel. É mais forte que a gente.”

 

DANILO GOMES

Aos 65 anos, o jornalista escritor Danilo Gomes diz nunca ter passado por conflitos. Cronista assumido, com publicações em diversos jornais do país, ele acredita que uma atividade completa a outra. “No fundo, trata-se de escrever, que é um dom que se desenvolve. Grandes jornalistas costumam ser grandes escritores, a começar pelo cronista, contista, poeta e romancista Machado de Assis, nosso ícone, nosso mestre, orgulho do povo brasileiro”.

 

ANDERSON BRAGA HORTA

O jornalista, escritor e servidor público aposentado Anderson Braga Horta acha que a pior parte do jornalismo na literatura é a falta de tempo. Por isso, avalia que quem melhor concilia as duas áreas são os colunistas e os repórteres de pautas mais literárias e culturais. Em Brasília desde 1960, o mineiro de Carangola argumenta que a história literária brasileira é uma prova de que não há incompatibilidade entre as duas áreas. “São coisas diferentes, é verdade, mas escrever para jornal pode ou não ser diferente do que escrever literatura. Os cronistas estão aí para provar que isso é possível.”

 

CARLA ANDRADE

“Pra quem quer ser jornalista e escritor, recomendo que tente conciliar ao máximo as duas coisas. Fazer crônicas diárias, observar tudo, escrever em casa as histórias que começaram na rua e poderiam virar ficção. Eu acho que dá pra conciliar sim, se a pessoa gostar mesmo de escrever e tentar fazer disso um exercício diário.”

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